Poetriceria VI - Quebrei como um vaso

Sentado no banco de jardim, olho as árvores. A criançada corre sob o olhar atento do pais e um casal de namorados olha-se, voluptuosamente, ao fundo, num banco de jardim como este. As minhas recordações não me permitem emitir um sorriso, ainda que fosse como máscara ténue. No lago, os patos descrevem círculos harmónicos que parecem uma coreografia de bailado. A água espelha tudo. Está suja, dirty like me.

Levanto-me, puxo do cigarro e avanço para este, rumo à avenida do descobridor português. Tento não fechar os olhos para não ser assaltado pelas imagens nefastas da desvastação em que estou. Busco, nesse momento, uma corda, uma ponta de cor, uma figura que me tire dali, do preto e branco em que me tornei, da ruína que sou hoje, das pedras negras e húmidas que me cercam e embuscam continuamente.

Ensaio e planeio uma forma de fugir daqui... mas não consigo. Por um segundo penso isso mas os restantes mil dizem-me que é impossível conseguir ir mais além, dobrar o destino e a negra sina que a vida nos dita. Quebrei, como o jarro ou o vaso que vai à fonte e, por descuido, cai. Quebrei e não vou conseguir sair deste entorpecimento. De tanto horror, apetece-me fugir. Não tarda muito amo o torpor. Perdi-me e não me vou encontrar...

0 comentários:

Enviar um comentário