Poetriceria IV - sem nada

Ontem fui com o Barbosa a Sintra. Passeamo-nos pelas ruas, pelas quintas... Depois perguntei-lhe:
- Barbosa, tu tens tudo! Tens uma vida dessafogada, uma capacidade única de estar e ter amigos, de te fazeres ver e ouvir. Como te sentes?

- Bem, mas nem tudo são rosas...

- O que são rosas? - disse por entre dentes. - Já não sei o que isso é...

- Rosas são os momentos bons!

- Eu sei o que quiseste dizer... Mas, como sabes, eu já não acredito na vida, pelo menos como tu a vives e como tu a tens. Diz-me: a que é que te agarras quando a tua vida é uma sucessão de erros, quando não tens onde te agarrar, porque lutar?

- Sei lá... A Deus?

- Deus morreu! Deus está morto e enterrado!

- Não enerves, por favor - tentava acalmar-me - tudo tem solução!

- O problema é esse, Barbosa, nem tudo tem solução... E eu sou uma dessas coisas!

Não falamos mais depois. Apanhamos o comboio e rumamos a casa com um "até amanhã".

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